tag:blogger.com,1999:blog-65832199091726354452024-03-14T07:59:53.200-03:00Carlos Drummond de AndradePoesia e textos de Carlos Drummond de Andrade.
"No meio do caminho tinha uma pedra... tinha uma pedra no meio do caminho".Unknownnoreply@blogger.comBlogger48125tag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-30229107461500264532009-01-30T06:08:00.002-02:002009-01-30T06:09:06.415-02:00Os ombros suportam o mundoOs ombros suportam o mundo<br /><br />Tempo de absoluta depuração.<br />Tempo em que não se diz mais: meu amor.<br />Porque o amor resultou inútil.<br />E os olhos não choram.<br />E as mãos tecem apenas o rude trabalho.<br />E o coração está seco.<br /><br />Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.<br />Ficaste sozinho, a luz apagou-se,<br />mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.<br />És todo certeza, já não sabes sofrer.<br />E nada esperas de teus amigos.<br /><br />Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?<br />Teus ombros suportam o mundo<br />e ele não pesa mais que a mão de uma criança.<br />As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios<br />provam apenas que a vida prossegue<br />e nem todos se libertaram ainda.<br />Alguns, achando bárbaro o espetáculo<br />prefeririam (os delicados) morrer.<br />Chegou um tempo em que não adianta morrer.<br />Chegou um tempo que a vida é uma ordem.<br />A vida apenas, sem mistificação.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-33660504057880746132009-01-30T06:08:00.001-02:002009-01-30T06:08:26.052-02:00O tempo passa ? Não passaO tempo passa ? Não passa<br /><br />O tempo passa ? Não passa<br />no abismo do coração.<br />Lá dentro, perdura a graça<br />do amor, florindo em canção.<br /><br />O tempo nos aproxima<br />cada vez mais, nos reduz<br />a um só verso e uma rima<br />de mãos e olhos, na luz.<br /><br />Não há tempo consumido<br />nem tempo a economizar.<br />O tempo é todo vestido<br />de amor e tempo de amar.<br /><br />O meu tempo e o teu, amada,<br />transcendem qualquer medida.<br />Além do amor, não há nada,<br />amar é o sumo da vida.<br /><br />São mitos de calendário<br />tanto o ontem como o agora,<br />e o teu aniversário<br />é um nascer a toda hora.<br /><br />E nosso amor, que brotou<br />do tempo, não tem idade,<br />pois só quem ama escutou<br />o apelo da eternidade.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-89915443948864750012009-01-30T06:07:00.001-02:002009-01-30T06:07:58.710-02:00A moça mostrava a coxaA moça mostrava a coxa<br /><br />A moça mostrava a coxa,<br />a moça mostrava a nádega,<br />só não mostrava aquilo<br />- concha, berilo, esmeralda -<br />que se entreabre, quatrifólio,<br />e encerrra o gozo mais lauto,<br />aquela zona hiperbórea,<br />misto de mel e de asfalto,<br />porta hermética nos gonzos<br />de zonzos sentidos presos,<br />ara sem sangue de ofícios,<br />a moça não me mostrava.<br />E torturando-me, e virgem<br />no desvairado recato<br />que sucedia de chofre<br />á visão dos seios claros,<br />qua pulcra rosa preta<br />como que se enovelava,<br />crespa, intata, inacessível,<br />abre-que-fecha-que-foge,<br />e a fêmea, rindo, negava<br />o que eu tanto lhe pedia,<br />o que devia ser dado<br />e mais que dado, comido.<br />Ai, que a moça me matava<br />tornando-me assim a vida<br />esperança consumida<br />no que, sombrio, faiscava.<br />Roçava-lhe a perna. Os dedos<br />descobriam-lhe segredos<br />lentos, curvos, animais,<br />porém o maximo arcano,<br />o todo esquivo, noturno,<br />a tríplice chave de urna,<br />essa a louca sonegava,<br />não me daria nem nada.<br />Antes nunca me acenasse.<br />Viver não tinha propósito,<br />andar perdera o sentido,<br />o tempo não desatava<br />nem vinha a morte render-me<br />ao luzir da estrela-dalva,<br />que nessa hora já primeira,<br />violento, subia o enjoo<br />de fera presa no Zôo.<br />Como lhe sabia a pele,<br />em seu côncavo e convexo,<br />em seu poro, em seu dourado<br />pêlo de ventre! mas sexo<br />era segredo de Estado.<br />Como a carne lhe sabia<br />a campo frio, orvalhado,<br />onde uma cobra desperta<br />vai traçando seu desenho<br />num frêmito, lado a lado!<br />Mas que perfume teria<br />a gruta invisa? que visgo,<br />que estreitura, que doçume,<br />que linha prístina, pura,<br />me chamava, me fugia?<br />Tudo a bela me ofertava,<br />e que eu beijasse ou mordesse,<br />fizesse sangue: fazia.<br />Mas seu púbis recusava.<br />Na noite acesa, no dia,<br />sua coxa se cerrava.<br />Na praia, na ventania,<br />quando mais eu insistia,<br />sua coxa se apertava.<br />Na mais erma hospedaria<br />fechada por dentro a aldrava,<br />sua coxa se selava,<br />se encerrava, se salvava,<br />e quem disse que eu podia<br />fazer dela minha escrava?<br />De tanto esperar, porfia<br />sem vislumbre de vitória,<br />já seu corpo se delia,<br />já se empana sua glória,<br />já sou diverso daquele<br />que por dentro se rasgava,<br />e não sei agora ao certo<br />se minha sede mais brava<br />era nela que pousava.<br />Outras fontes, outras fomes,<br />outros flancos: vasto mundo,<br />e o esquecimento no fundo.<br />Talvez que a moça hoje em dia...<br />Talvez. O certo é que nunca.<br />E se tanto se furtara<br />com tais fugas e arabescos<br />e tão surda teimosia,<br />por que hoje se abriria?<br />Por que viria ofertar-me<br />quando a noite já vai fria,<br />sua nívea rosa preta<br />nunca por mim visitada,<br />inacessível naveta?<br />Ou nem teria naveta...<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-87847365950662216202009-01-30T06:06:00.001-02:002009-01-30T06:06:49.197-02:00Para o sexo a expirarPara o sexo a expirar<br /><br />Para o sexo a expirar, eu me volto, expirante.<br />Raiz de minha vida, em ti me enredo e afundo.<br />Amor, amor, amor - o braseiro radiante<br />que me dá, pelo orgasmo, a explicação do mundo.<br /><br />Pobre carne senil, vibrando insatisfeita,<br />a minha se rebela ante a morte anunciada.<br />Quero sempre invadir essa vereda estreita<br />onde o gozo maior me propicia a amada.<br /><br />Amanhã, nunca mais. Hoje mesmo, quem sabe?<br />enregela-se o nervo, esvai-se-me o prazer<br />antes que, deliciosa, a exploração acabe.<br /><br />Pois que o espasmo coroe o instante do meu termo,<br />e assim possa eu partir, em plenitude o ser,<br />de sêmen aljofrando o irreparável ermo.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-47783387250840106932009-01-30T06:05:00.002-02:002009-01-30T06:06:08.788-02:00Amor, pois que e palavra essencialAmor, pois que é palavra essencial<br /><br />Amor - pois que é palavra essencial<br />comece esta canção e toda a envolva.<br />Amor guie o meu verso, e enquanto o guia,<br />reúna alma e desejo, membro e vulva.<br /><br />Quem ousará dizer que ele é só alma?<br />Quem não sente no corpo a alma expandir-se<br />até desabrochar em puro grito<br />de orgasmo, num instante de infinito?<br /><br />O corpo noutro corpo entrelaçado,<br />fundido, dissolvido, volta à origem<br />dos seres, que Platão viu completados:<br />é um, perfeito em dois; são dois em um.<br /><br />Integração na cama ou já no cosmo?<br />Onde termina o quarto e chega aos astros?<br />Que força em nossos flancos nos transporta<br />a essa extrema região, etérea, eterna?<br /><br />Ao delicioso toque do clitóris,<br />já tudo se transforma, num relâmpago.<br />Em pequenino ponto desse corpo,<br />a fonte, o fogo, o mel se concentraram.<br /><br />Vai a penetração rompendo nuvens<br />e devassando sóis tão fulgurantes<br />que nunca a vista humana os suportara,<br />mas, varado de luz, o coito segue.<br /><br />E prossegue e se espraia de tal sorte<br />que, além de nós, além da prórpia vida,<br />como ativa abstração que se faz carne,<br />a idéia de gozar está gozando.<br /><br />E num sofrer de gozo entre palavras,<br />menos que isto, sons, arquejos, ais,<br />um só espasmo em nós atinge o climax:<br />é quando o amor morre de amor, divino.<br /><br />Quantas vezes morremos um no outro,<br />no úmido subterrâneo da vagina,<br />nessa morte mais suave do que o sono:<br />a pausa dos sentidos, satisfeita.<br /><br />Então a paz se instaura. A paz dos deuses,<br />estendidos na cama, qual estátuas<br />vestidas de suor, agradecendo<br />o que a um deus acrescenta o amor terrestre.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-85341358274785398342009-01-30T06:05:00.001-02:002009-01-30T06:05:26.498-02:00O que se passa na camaO que se passa na cama<br /><br />(O que se passa na cama<br />é segredo de quem ama.)<br /><br />É segredo de quem ama<br />não conhecer pela rama<br />gozo que seja profundo,<br />elaborado na terra<br />e tão fora deste mundo<br />que o corpo, encontrando o corpo<br />e por ele navegando,<br />atinge a paz de outro horto,<br />noutro mundo: paz de morto,<br />nirvana, sono do pênis.<br /><br />Ai, cama canção de cuna,<br />dorme, menina, nanana,<br />dorme onça suçuarana,<br />dorme cândida vagina,<br />dorme a última sirena<br />ou a penúltima- O pênis<br />dorme, puma, americana<br />fera exausta. Dorme, fulva<br />grinalda de tua vulva.<br /><br />E silenciem os que amam,<br />entre lençol e cortina<br />ainda úmidos de sêmen,<br />estes segredos de cama.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-6586412789063382632009-01-30T06:04:00.001-02:002009-01-30T06:04:57.712-02:00Quarto em desordemQuarto em desordem<br /><br />Na curva perigosa dos cinqüenta<br />derrapei neste amor. Que dor! que pétala<br />sensível e secreta me atormenta<br />e me provoca à síntese da flor<br /><br />que não sabe como é feita: amor<br />na quinta-essência da palavra, e mudo<br />de natural silêncio já não cabe<br />em tanto gesto de colher e amar<br /><br />a nuvem que de ambígua se dilui<br />nesse objeto mais vago do que nuvem<br />e mais indefeso, corpo! Corpo, corpo, corpo<br /><br />verdade tão final, sede tão vária<br />a esse cavalo solto pela cama<br />a passear o peito de quem ama.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-521024627128566212009-01-30T06:03:00.002-02:002009-01-30T06:04:15.509-02:00AMARAMAR<br /><br />Que pode uma criatura senão,<br />entre criaturas, amar?<br />amar e esquecer, amar e malamar,<br />amar, desamar, amar?<br />sempre, e até de olhos vidrados, amar?<br /><br />Que pode, pergunto, o ser amoroso,<br />sozinho, em rotação universal,<br />senão rodar também, e amar?<br />amar o que o mar traz à praia,<br />o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,<br />é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?<br /><br />Amar solenemente as palmas do deserto,<br />o que é entrega ou adoração expectante,<br />e amar o inóspito, o cru,<br />um vaso sem flor, um chão de ferro,<br />e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e<br />uma ave de rapina.<br /><br />Este o nosso destino: amor sem conta,<br />distribuido pelas coisas pérfidas ou nulas,<br />doação ilimitada a uma completa ingratidão,<br />e na concha vazia do amor a procura medrosa,<br />paciente, de mais e mais amor.<br /><br />Amar a nossa falta mesma de amor,<br />e na secura nossa amar a água implícita,<br />e o beijo tácito, e a sede infinita.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-59760340473122297052009-01-30T06:03:00.001-02:002009-01-30T06:03:53.875-02:00ALEM DO CEU ALEM DA TERRAAlém da Terra, Além do Céu<br /><br />Além da terra, além do céu<br />no trampolim do sem-fim das estrelas,<br />no rastros dos astros,<br />na magnólia das nebulosas.<br />Além, muito além do sistema solar<br />até onde alcançam o pensamento e o coração,<br />vamos!<br />vamos conjugar<br />o verbo fudamental essencial<br />o verbo transcendente, acima das gramáticas<br />e do medo e da moeda e da política,<br />o verbo sempreamar<br />o verbo pluriamar,<br />razão de ser e viver.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-73848366750712389822009-01-30T06:02:00.001-02:002009-01-30T06:02:57.360-02:00Reconhecimento do AmorReconhecimento do Amor<br /><br />Os caminhos da amizade.<br />Apareceste para ser o ombro suave<br />Onde se reclina a inquietação do forte<br />(Ou que forte se pensa ingenuamente).<br />Trazias nos olhos pensativos<br />A bruma da renúncia:<br />Não queiras a vida plena,<br />Tinhas o prévio desencanto das uniões para toda a vida,<br />Não pedias nada,<br />Não reclamavas teu quinhão de luz.<br />E deslizavas em ritmo gratuito de ciranda.<br /><br />Descansei em ti meu feixe de desencontros<br />E de encontros funestos.<br />Queria talvez - sem o perceber, juro -<br />Sadicamente massacrar-se<br />Sob o ferro de culpas e vacilações e angústias que doíam<br />Desde a hora do nascimento,<br />Senão desde o instante da concepção em certo mês perdido<br />na História,<br />Ou mais longe, desde aquele momento intemporal<br />Em que os seres são apenas hipóteses não formuladas<br />No caos universal<br /><br />Como nos enganamos fugindo ao amor!<br />Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar<br />Sua espada coruscante, seu formidável<br />Poder de penetrar o sangue e nele imprimir<br />Uma orquídea de fogo e lágrimas.<br /><br />Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu<br />Em doçura e celestes amavios.<br />Não queimava, não siderava; sorria.<br />Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso.<br />Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor<br />Que trazias para mim e que teus dedos confirmavam<br />Ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro,<br />O Outro que eu me supunha, o Outro que te imaginava,<br />Quando - por esperteza do amor - senti que éramos um só.<br /><br />Amiga, amada, amada amiga, assim o amor<br />Dissolve o mesquinho desejo de existir em face do mundo<br />Com o olhar pervagante e larga ciência das coisas.<br />Já não defrontamos o mundo: nele nos diluímos,<br />E a pura essência em que nos transmutamos dispensa<br />Alegorias, circunstâncias, referências temporais,<br />Imaginações oníricas,<br />O vôo do Pássaro Azul, a aurora boreal,<br />As chaves de ouro dos sonetos e dos castelos medievos,<br />Todas as imposturas da razão e da experiência,<br />Para existir em si e por si,<br />À revelia de corpos amantes,<br />Pois já nem somos nós, somos o número perfeito: UM.<br /><br />Levou tempo, eu sei, para que o Eu renunciasse<br />à vacuidade de persistir, fixo e solar,<br />E se confessasse jubilosamente vencido,<br />Até respirar o júbilo maior da integração.<br />Agora, amada minha para sempre,<br />Nem olhar temos de ver nem ouvidos de captar<br />A melodia, a paisagem, a transparência da vida,<br />Perdidos que estamos na concha ultramarina de amar.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-78736769425009195682009-01-30T06:01:00.000-02:002009-01-30T06:02:03.748-02:00Sentimento do MundoSentimento do Mundo<br /><br />Tenho apenas duas mãos<br />e o sentimento do mundo,<br />mas estou cheio de escravos,<br />minhas lembranças escorrem<br />e o corpo transige<br />na confluência do amor.<br /><br />Quando me levantar, o céu<br />estará morto e saqueado,<br />eu mesmo estarei morto,<br />morto meu desjeo, morto<br />o pântano sem acordes.<br /><br />Os camaradas não disseram<br />que havia uma guerra<br />e era necessário<br />trazer fogo e alimento.<br />Sinto-me disperso, anterior a fronteiras,<br />humildemente vos peço<br />que me perdoeis.<br /><br />Quando os corpos passarem,<br />eu ficarei sozinho<br />desafiando a recordação<br />do sineiro, da viúva e do microscopista<br />que habitavam a barraca<br />e não foram encontrados<br />ao amanhecer<br />esse amanhecer<br />mais que a noite.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-87592313345796936732009-01-30T06:00:00.000-02:002009-01-30T06:01:07.781-02:00JOSEJOSÉ<br /><br />E agora, José?<br />A festa acabou,<br />a luz apagou,<br />o povo sumiu,<br />a noite esfriou,<br />e agora, José?<br />e agora, Você?<br />Você que é sem nome,<br />que zomba dos outros,<br />Você que faz versos,<br />que ama, protesta?<br />e agora, José?<br /><br />Está sem mulher,<br />está sem discurso,<br />está sem carinho,<br />já não pode beber,<br />já não pode fumar,<br />cuspir já não pode,<br />a noite esfriou,<br />o dia não veio,<br />o bonde não veio,<br />o riso não veio,<br />não veio a utopia<br />e tudo acabou<br />e tudo fugiu<br />e tudo mofou,<br />e agora, José?<br /><br />E agora, José?<br />sua doce palavra,<br />seu instante de febre,<br />sua gula e jejum,<br />sua biblioteca,<br />sua lavra de ouro,<br />seu terno de vidro,<br />sua incoerência,<br />seu ódio, - e agora?<br /><br />Com a chave na mão<br />quer abrir a porta,<br />não existe porta;<br />quer morrer no mar,<br />mas o mar secou;<br />quer ir para Minas,<br />Minas não há mais.<br />José, e agora?<br /><br />Se você gritasse,<br />se você gemesse,<br />se você tocasse,<br />a valsa vienense,<br />se você dormisse,<br />se você cansasse,<br />se você morresse...<br />Mas você não morre,<br />você é duro, José!<br /><br />Sozinho no escuro<br />qual bicho-do-mato,<br />sem teogonia,<br />sem parede nua<br />para se encostar,<br />sem cavalo preto<br />que fuja do galope,<br />você marcha, José!<br />José, para onde?<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-92016319164800018232009-01-30T05:59:00.000-02:002009-01-30T06:00:00.841-02:00POEMA DO JORNALPOEMA DO JORNAL<br /><br />O fato ainda não acabou de acontecer<br />e já a mão nervosa do repórter<br />o transforma em notícia.<br />O marido está matando a mulher.<br />A mulher ensangüentada grita.<br />Ladrões arrombam o cofre.<br />A pena escreve.<br />A polícia dissolve o meeting.<br />Vem da sala de linotipos a doce música mecânica.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-79662749361786976862009-01-30T05:58:00.002-02:002009-01-30T05:59:25.385-02:00Hino NacionalHino Nacional<br /><br />Precisamos descobrir o Brasil!<br />Escondido atrás as florestas,<br />com a água dos rios no meio,<br />o Brasil está dormindo, coitado.<br />Precisamos colonizar o Brasil.<br /><br />O que faremos importando francesas<br />muito louras, de pele macia,<br />alemãs gordas, russas nostálgicas para<br />garçonettes dos restaurantes noturnos.<br />E virão sírias fidelíssimas.<br />Não convém desprezar as japonesas...<br /><br />Precisamos educar o Brasil.<br />Compraremos professores e livros,<br />assimilaremos finas culturas,<br />abriremos dancings e subvencionaremos as elites.<br /><br />Cada brasileiro terá sua casa<br />com fogão e aquecedor elétricos, piscina,<br />salão para conferências científicas.<br />E cuidaremos do Estado Técnico.<br /><br />Precisamos louvar o Brasil.<br />Não é só um país sem igual.<br />Nossas revoluções são bem maiores<br />do que quaisquer outras; nossos erros também.<br />E nossas virtudes? A terra das sublimes paixões...<br />os Amazonas inenarráveis... os incríveis João-Pessoas...<br /><br />Precisamos adorar o Brasil!<br />Se bem que seja difícil compreender o que querem esses homens,<br />por que motivo eles se ajuntaram e qual a razão<br />de seus sofrimentos.<br /><br />Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!<br />Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado,<br />ele quer repousar de nossos terríveis carinhos.<br />O Brasil não nos quer! Está farto de nós!<br />Nosso Brasil é no outro mundo. Este não é o Brasil.<br />Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?<br /><br />Eduardo Alves da Costa<br /><br />Quanto a mim, sonharei com Portugal<br /><br />Às vezes, quando<br />estou triste e há silêncio<br />nos corredores e nas veias,<br />vem-me um desejo de voltar<br />a Portugal. Nunca lá estive,<br />é certo, como também<br />é certo meu coração, em dias tais,<br />ser um deserto.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-22018900462394611042009-01-30T05:58:00.001-02:002009-01-30T05:58:47.171-02:00A Um AusenteA Um Ausente<br /><br />Tenho razão de sentir saudade,<br />tenho razão de te acusar.<br />Houve um pacto implícito que rompeste<br />e sem te despedires foste embora.<br />Detonaste o pacto.<br />Detonaste a vida geral, a comum aquiescência<br />de viver e explorar os rumos de obscuridade<br />sem prazo sem consulta sem provocação<br />até o limite das folhas caídas na hora de cair.<br /><br />Antecipaste a hora.<br />Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.<br />Que poderias ter feito de mais grave<br />do que o ato sem continuação, o ato em si,<br />o ato que não ousamos nem sabemos ousar<br />porque depois dele não há nada?<br /><br />Tenho razão para sentir saudade de ti,<br />de nossa convivência em falas camaradas,<br />simples apertar de mãos, nem isso, voz<br />modulando sílabas conhecidas e banais<br />que eram sempre certeza e segurança.<br /><br />Sim, tenho saudades.<br />Sim, acuso-te porque fizeste<br />o não previsto nas leis da amizade e da natureza<br />nem nos deixaste sequer o direito de indagar<br />porque o fizeste, porque te foste.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-27559973096004353512009-01-30T05:57:00.001-02:002009-01-30T05:57:47.968-02:00Diante das Fotos de Evandro TeixeiraDiante das Fotos de Evandro Teixeira<br /><br />A pessoa, o lugar, o objeto<br />estão espostos e escondidos<br />ao mesmo tempo so a luz,<br />e dois olhos não ão bastantes<br />para captar o que se oculta<br />no rápido florir de um gesto.<br /><br />É preciso que a lente mágica<br />enriqueça a visão humana<br />e do real de cada coisa<br />um mais seco real extraia<br />para que penetremos fundo<br />no puro enigma das figuras.<br /><br />Fotografia - é o codinome<br />da mais aguda percepção<br />que a nós mesmos nos vai mostrando<br />e da evanescência de tudo,<br />edifica uma penanência,<br />cristal do tempo no papel.<br /><br />Das luas de rua no Rio<br />em 68, que nos resta<br />mais positivo, mais queimante<br />do que as fotos acusadoras,<br />tão vivas hoje como então,<br />a lembrar como a exorcizar?<br /><br />Marcas de enchente e do despejo,<br />o cadáver inseputável,<br />o colchão atirado ao vento,<br />a lodosa, podre favela,<br />o mendigo de Nova York<br />a moça em flor no Jóquei Clube,<br /><br />Garrincha e nureyev, dança<br />de dois destinos, mães-de-santo<br />na praia-templo de Ipanema,<br />a dama estranha de Ouro Preto,<br />a dor da América Latina,<br />mitos não são, pois são fotos.<br /><br />Fotografia: arma de amor,<br />de justiça e conhecimento,<br />pelas sete partes do mundo<br />a viajar, a surpreender<br />a tormentosa vida do homem<br />e a esperança a brotar das cinzas.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-62711993332908326442009-01-30T05:56:00.000-02:002009-01-30T05:57:13.306-02:00O que Alecio veO que Alécio vê<br /><br />A voz lhe disse ( uma secreta voz):<br />- Vai, Alécio, ver.<br />Vê e reflete o visto, e todos captem<br />por seu olhar o sentimento das formas<br />que é o sentimento primeiro - e último - da vida.<br /><br />E Alécio vai e vê<br />o natural das coisas e das gentes,<br />o dia, em sua novidade não sabida,<br />a inaugurar-se todas as manhãs,<br />o cão, o parque, o traço da passagem<br />das pessoas na rua, o idílio<br />jamais extinto sob as ideologias,<br />a graça umbilical do nu feminino,<br />conversas de café, imagens<br />de que a vida flui como o Sena ou o São Francisco<br />para depositar-se numa folha<br />sobre a pedra do cais<br />ou para sorrir nas telas clássicas de museu<br />que se sabem contempladas<br />pela tímida (ou arrogante) desinformação das visitas,<br />ou ainda<br />para dispersar-se e concentrar-se<br />no jogo eterno das crianças.<br /><br />Ai, as crianças... Para elas,<br />há um mirante iluminado no olhar de Alécio<br />e sua objetiva.<br />(Mas a melhor objetiva não serão os olhos líricos de Alécio?)<br />Tudo se resume numa fonte<br />e nas três menininhas peladas que a contemplam,<br />soberba, risonha, puríssima foto-escultura de Alécio de Andrade,<br />hino matinal à criação<br />e a continuação do mundo em esperança.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-51468042563418133392009-01-30T05:55:00.004-02:002009-01-30T05:56:30.466-02:00A Noite Dissolve os HomensÀ Noite Dissolve os Homens<br /><br />A noite desceu. Que noite!<br />Já não enxergo meus irmãos.<br />E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.<br /><br />A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate,<br />nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão.<br />A noite caiu. Tremenda, sem esperança...<br />Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.<br /><br />E o amor não abre caminho na noite.<br />A noite é mortal, completa, sem reticências,<br />a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer,<br />a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes!<br />nas suas fardas.<br /><br />A noite anoiteceu tudo... O mundo não tem remédio...<br />Os suicidas tinham razão.<br /><br />Aurora, entretanto eu te diviso,<br />ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender<br />e dos bens que repartirás com todos os homens.<br /><br />Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,<br />adivinho-te que sobes,<br />vapor róseo, expulsando a treva noturna.<br /><br />O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,<br />teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam<br />na escuridão<br />como um sinal verde e peremptório.<br /><br />Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,<br />minha carne estremece na certeza de tua vinda.<br /><br />O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes<br />se enlaçam,<br />os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão<br />simples e macio...<br /><br />Havemos de amanhecer.<br />O mundo se tinge com as tintas da antemanhã<br />e o sangue que escorre é doce, de tão necessário<br />para colorir tuas pálidas faces, aurora.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-54808541082816382682009-01-30T05:55:00.003-02:002009-01-30T05:55:25.794-02:00FRASES DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADEA leitura é uma fonte inesgotável de prazer mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede.<br /><br /><br />É menor pecado elogiar um mau livro sem o ler, do que depois de o ter lido. Por isso, agradeço imediatamente depois de receber o volume. Não há vida literária plenamente virtuosa.<br /><br /><br />O senhor cultiva epigramas? Não, só a grama do meu jardim.<br /><br /><br />Há vários motivos para não se amar uma pessoa e um só para amá-la.<br /><br /><br />Os homens distinguem-se pelo que fazem, as mulheres pelo que levam os homens a fazer.<br /><br /><br />Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo.<br /><br /><br />O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.<br /><br /><br />Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação,de pele,saliva,lágrima,nuvem,quindim,brisa ou filosofia.<br /><br /><br />Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata<br /><br /><br />Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-21477202612647922792009-01-30T05:55:00.001-02:002009-01-30T05:55:10.127-02:00FRASES DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADEHá vários motivos para não se amar uma pessoa e um só para amá-la.<br /><br /><br />A amizade é um meio de nos isolarmos da humanidade cultivando algumas pessoas.<br /><br /><br />Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis<br /><br /><br />Perder tempo em aprender coisas que não interessam, priva-nos de descobrir coisas interessantes.<br /><br /><br />Há muitas razões para duvidar e uma só para crer.<br /><br /><br />Entre a dor e o nada o que você escolhe<br /><br /><br />Há certo gosto em pensar sozinho. É ato individual, como nascer e morrer.<br /><br /><br />O homem vangloria-se de ter imitado o vôo das aves com uma complicação técnica que elas dispensam.<br /><br /><br />Necessitamos sempre de ambicionar alguma coisa que, alcançada, não nos torna sem ambição.<br /><br /><br />Escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira.<br /><br /><br />A dor é inevitável O sofrimento é opcional<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-39294416046675761332009-01-30T05:54:00.003-02:002009-01-30T05:54:55.576-02:00FRASES DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADENinguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar.<br /><br /><br />O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.<br /><br /><br />A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedecer-lhe é fraca.<br /><br /><br />No adultério há pelo menos três pessoas que se enganam.<br /><br /><br />Como as plantas a amizade não deve ser muito nem pouco regada.<br /><br /><br />A confiança é um ato de fé, e esta dispensa raciocínio.<br /><br /><br />As dificuldades são o aço estrutural que entra na construção do carácter.<br /><br /><br />Só é lutador quem sabe lutar consigo mesmo.<br /><br /><br />A confiança é um ato de fé, e esta dispensa raciocínio.<br /><br /><br />Se procurar bem você acaba encontrando. Não a explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida.<br /><br /><br />Entre as diversas formas de mendicância, a mais humilhante é a do amor implorado.<br /><br /><br />Há homens e mulheres que fazem do casamento uma oportunidade de adultério.<br /><br /><br />O cofre do banco contém apenas dinheiro. Frustar-se-á quem pensar que nele encontrará riqueza.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-52258678707368513612009-01-30T05:54:00.001-02:002009-01-30T05:54:32.922-02:00FRASES DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADEA educação para o sofrimento, evitaria senti-lo, em relação a casos que não o merecem.<br /><br /><br />Há duas épocas na vida, infância e velhice, em que a felicidade está numa caixa de bombons.<br /><br /><br />Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundos, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força consegue destruir.<br /><br /><br />Há livros escritos para evitar espaços vazios na estante.<br /><br /><br />As academias coroam com igual zelo o talento e a ausência dele.<br /><br /><br />Quem gosta de escrever cartas para os jornais não deve ter namorada.<br /><br /><br />O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama<br /><br /><br />e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.<br /><br /><br />Os homens são como as moedas; devemos tomá-los pelo seu valor, seja qual for o seu cunho.<br /><br /><br />Adão, o primeiro espoliado - e no próprio corpo.<br /><br /><br />Cada geração de computadores desmoraliza as antecedentes e seus criadores.<br /><br /><br />Partido político é um agrupamento de cidadãos para defesa abstracta de princípios e elevação concreta de alguns cidadãos.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-60533494428714275292009-01-30T05:53:00.000-02:002009-01-30T05:54:09.119-02:00FRASES DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADEAs dificuldades são o aço estrutural que entra na construção do caráter.<br /><br /><br />As obras-primas devem ter sido geradas por acaso; a produção voluntária não vai além da mediocridade.<br /><br /><br />Cem máximas que resumissem a sabedoria universal tornariam dispensáveis os livros.<br /><br /><br />O progresso dá-nos tanta coisa que não nos sobra nada nem para pedir, nem para desejar, nem para jogar fora.<br /><br /><br />Para a virtude da discrição, ou de modo geral qualquer virtude, aparecer em seu fulgor, é necessário que faltemos à sua prática.<br /><br /><br />Stop, a vida parou ou foi o automóvel?<br /><br /><br />Ninguém é igual a ninguém. Todo ser humano é um estranho ímpar.<br /><br /><br />Porque eu sou do tamanho daquilo que sinto, que vejo e que faço, não do tamanho que os outros me enxergam.<br /><br /><br />No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra ...<br /><br /><br />Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-67016238509921180812009-01-30T05:51:00.000-02:002009-01-30T05:53:52.169-02:00FRASES DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADEAh o amor ... que nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei porque...<br /><br /><br />Eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundos, mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma força consegue destruir.<br /><br /><br />As leis não bastam. Os lírios não nascem da lei.<br /><br /><br />Amor é dado de graça,é semeado no vento,na cachoeira, no eclipse.Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.<br /><br /><br />Facil e dificil<br /><br /><br />Há uma hora em que os dares fecham e as virtudes caem<br /><br /><br />A amizade vale mais do que um simples ficar com alguém .<div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-6583219909172635445.post-83350218679257643302008-03-30T19:24:00.002-03:002008-07-29T21:04:05.956-03:00Canto ao homem do povo - Carlos Drummond de Andrade<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqulQPtxyRSXmSpwuDzi9toyLwKTAp0EZs69eTvBgQ_Wjd-OkpIyhGAdpmCmSv6LOcLfUW0hIqReZAZlE1qQeQbMMQ7r5ffaIP_0IP2d3uHqS_vLxxC880z20QuUj0S9TD9ZMamJZolfc/s1600-h/chaplin.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqulQPtxyRSXmSpwuDzi9toyLwKTAp0EZs69eTvBgQ_Wjd-OkpIyhGAdpmCmSv6LOcLfUW0hIqReZAZlE1qQeQbMMQ7r5ffaIP_0IP2d3uHqS_vLxxC880z20QuUj0S9TD9ZMamJZolfc/s200/chaplin.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5183665088827324258" border="0" /></a><br /><div align="center"><span style="color: rgb(255, 0, 0);"><span style="font-style: italic;">Para </span>Charles Chaplin<br /><br /></span></div><div align="center">Uma cega te ama. Os olhos abrem-se.</div><div align="center">Não, não te ama. </div><div align="center">Um rico, em álcool,</div><div align="center">é teu amigo e lúcido repele</div><div align="center">tua riqueza. A confusão é nossa, que esquecemos</div><div align="center">o que há de água, de sopro e de inocência</div><div align="center">no fundo de cada um de nós, terrestres. Mas, ó mitos</div><div align="center">que cultuamos, falsos: flores pardas,</div><div align="center">anjos desleais, cofres redondos, arquejos</div><div align="center">políticos acadêmicos; convenções</div><div align="center">do branco, azul e roxo; maquinismos,</div><div align="center">telegramas em série, e fábricas e fábricas</div><div align="center">e fábricas de lâmpadas, proibições, auroras.</div><div align="center">Ficaste apenas um operário</div><div align="center">comandado pela voz colérica do megafone.</div><div align="center">És parafuso, gesto, esgar.</div><div align="center">Recolho teus pedaços: ainda vibram,</div><div align="center">lagarto mutilado. </div><div align="center">Colo teus pedaços. Unidade</div><div align="center">estranha é a tua, em mundo assim pulverizado.</div><div align="center">E nós, que a cada passo nos cobrimos</div><div align="center">e nos despimos e nos mascaramos,</div><div align="center">mal retemos em ti o mesmo homem,</div><div align="center">aprendiz</div><div align="center">bombeiro</div><div align="center">caixeiro</div><div align="center">doceiro</div><div align="center">emigrante</div><div align="center">força</div><div align="center">do</div><div align="center">maquinista</div><div align="center">noivo</div><div align="center">patinador</div><div align="center">soldado</div><div align="center">músico</div><div align="center">peregrino</div><div align="center">artista de circo</div><div align="center">marquês</div><div align="center">marinheiro</div><div align="center">carregador de piano</div><div align="center">apenas sempre entretanto tu mesmo,</div><div align="center">o que não está de acordo e é meigo,</div><div align="center">o incapaz de propriedade, o pé</div><div align="center">errante, a estrada</div><div align="center">fugindo, o amigo</div><div align="center">que desejaríamos reter</div><div align="center">na chuva, no espelho, na memória</div><div align="center">e todavia perdemos.</div><div class="blogger-post-footer">Carlos Drummond de Andrade</div>Unknownnoreply@blogger.com